Concierto de Aranjuez 3ª parte
Conheça toda a história dessa obra fantástica criada pelo espanhol Joaquín Rodrigo Vidre e detalhes da vida desse compositor considerado um dos mais importantes do século XX.
A nobreza espanhola costumava passar determinadas temporadas do ano nas Residências Reais, localizadas nos arredores de Madrid. Felipe II fundou uma pequena vila às margens do rio Tejo, junto à estrada que conduz para a região da Andaluzia. O povoado recebeu o nome de Aranjuez e o rei e sua comitiva tinham o hábito de lá permanecer por algumas semanas, durante a primavera, antes de seguirem para uma estadia mais prolongada na Granja de Santo Ildefonso e no Escorial.
Com a chegada ao poder da dinastia dos Bourbons, os reis Felipe V e Felipe VI, sucessivamente, se encantaram com Aranjuez. Arquitetos, engenheiros e paisagistas foram contratados, para criar novos palácios e belíssimos jardins, dignos de qualquer monarca europeu.
Aranjuez passou a ser conhecida internacionalmente, ao ter seu nome ligado a um concerto para guitarra e orquestra, O Concierto de Aranjuez, de autoria do compositor espanhol Joaquín Rodrigo Vidre (1901-1999).
De acordo com o crítico Brendan Beales, podemos perceber a sombra de Goya por entre os compassos desta obra cheia de emoção e melancolia. A música deste concerto nos traz a essência do espírito das cortes dos séculos XVII e XVIII, aonde os traços da aristocracia vigente se misturam às efusões da cultura popular da época.
Rodrigo era cego desde os três anos de idade e conseqüentemente a descrição musical de Aranjuez é uma coletânea dos sons e perfumes dos jardins dos palácios reais, registrados pelo autor durante os passeios diários que fazia com a esposa, durante sua lua de mel, em 1933.
O concerto está dividido em três movimentos: Allegro com spirito, Adágio e Allegro Gentile, sendo que a primeira e a última parte servem de moldura para o fascinante Adágio. Sem dúvida alguma, o tema central fez com que o Concierto de Aranjuez ganhasse uma popularidade extraordinária desde sua estréia em Barcelona, em 1940.
Foram criadas dezenas de versões populares do Adágio, que acabaram por desvirtuar o valor da obra original. A mais conhecida chama-se Aranjuez mon amour, arranjada por Bill Evans e interpretada por Miles Davis. A presença constante desta música nas paradas de sucesso auxiliou a divulgar a obra original trazendo fama, reconhecimento mundial e muito dinheiro para o autor. Por outro lado a fama avassaladora do Concerto de Aranjuez eclipsou o resto da obra de Rodrigo.
Entre seus principais trabalhos merece destaque a Fantasia para un Gentilhombre, peça para guitarra e orquestra. Ela está baseada em músicas compostas em 1674 pelo padre Gaspar Sanz. Exímio guitarrista, ele escreveu o livro Instrucción de musica sobre la Guitarra Española, uma das maiores contribuições para a literatura sobre esse instrumento. Além da teoria e informações técnicas sobre a prática e performance, bem como diagramas para as posições das mãos, o livro contém um grande número de peças para guitarra nos estilos villanos, folias, canários e españoletas adaptadas por Rodrigo, em sua Fantasia.
O compositor nasceu em Valência, em 1903. Apesar de ter ficado totalmente cego aos três anos de idade, ele nunca esmoreceu em seus propósitos. Aos oito anos já estudava piano, violino e solfejo, com os professores Francisco Antich e Eduardo Chavarri.
Em 1927, seguindo os passos de Albéniz, Granados e Manoel de Falla, Rodrigo viajou à Paris, para estudar composição com Paul Dukas, na Escola Normal de Música. Em pouco tempo ele se revelou como pianista e compositor entrando para o círculo de amizades de Ravel, Honneger, Milhaud, Stravinski e de Falla.
Em 1933 Joaquín Rodrigo casou-se com a pianista turca, Victoria Kamhi, sua principal colaboradora e companheira inseparável até a morte.
No campo político o compositor passou a ser criticado e abandonado por vários de seus amigos, a partir do momento em que aderiu ao regime do Generalíssimo Francisco Franco.
Após o sucesso do Concierto de Aranjuez, em 1940, ele foi nomeado Consultor Musical da Rádio Espanhola e Catedrático de Música na Universidade de Madrid. Apesar de seu conservadorismo Rodrigo prestou um importante serviço à música espanhola, auxiliando o país a conservar sua identidade musical logo após os traumas da sangrenta Guerra Civil.
Em 1991, o Rei Juan Carlos lhe outorgou o título nobiliárquico de Marqués de los Jardines de Aranjuez, por sua extraordinária contribuição à música da Espanha.
Joaquín Rodrigo faleceu em Madrid, no dia seis de julho de 1999.Fonte: Revista Digital
Comentários